Rumo ao 8 de Março 2019

Por Kate Paiva*

Nos últimos anos, o aprofundamento da crise mundial do capital intensificou uma onda economicamente conservadora, por um lado – defesa do Estado do mínimo, retirada de direitos trabalhistas, desmonte dos serviços públicos, desvio de verba pública para iniciativa privada – e politicamente reacionária, por outro – aversão à democracia, à liberdade de expressão, xenofobia, racismo, machismo, homofobia.

No Brasil, a falta de respostas dos governos de conciliação criou um terreno fértil para que a extrema-direita crescesse e se apresentasse prontamente como alternativa para a saída da crise. Impondo a agenda imperialista mundial, o governo Bolsonaro e seu clã de milicianos seguem fazendo os trabalhadores e trabalhadoras pagarem pela crise, com um reajuste do salário mínimo abaixo do previsto, enquanto os banqueiros lucram bilhões ao ano. Sob a falácia do combate à violência e a corrupção, aliada ao discurso moral da defesa da família, intensifica os ataques às mulheres, à população negra, aos LGBTs, indígenas e quilombolas.

Cenários como este não são novidades ao longo do desenvolvimento do capitalismo. Ao contrário, a exploração e a opressão é parte estruturante desse sistema. Por isso, é impossível falarmos em emancipação humana sem falarmos em ruptura com a ordem capitalista e superação da sociedade de classes. Sem falarmos, portanto, em revolução.

E aqui, é preciso destacar o importante papel das mulheres na luta de classes. Se o capitalismo impõe aos trabalhadores, em geral, péssimas condições de vida e trabalho, é ainda mais cruel com as mulheres. Ao responsabilizá-las, quase que exclusivamente, pelo trabalho doméstico e cuidado com os filhos, impõe uma jornada dupla, por vezes, tripla, de trabalho – não remunerado -, que tem um profundo impacto sobre a saúde física e mental das mulheres. Além disso, a criação da família nuclear – pilar da formação capitalista – confinou as mulheres como propriedades dos homens/maridos, destituindo-as de seus corpos, desejos e vontades e abrindo espaço para naturalização da violência doméstica, uma vez que os homens podiam fazer o que quisessem com sua propriedade – a mulher – privada.

É preciso destacar que pautas importantes, ainda hoje, para os diferentes movimentos feministas – participação política, condições de trabalho, direito ao corpo – foram conquistadas, pela primeira vez na história, com uma revolução socialista, impulsionada por mulheres. Em 8 de março de 1917, uma greve de mulheres tomou as ruas de Petrogrado, dando início ao processo que culminou na Revolução Russa. As mulheres conquistaram direitos fundamentais para sua participação na sociedade, como o direito ao voto, ao divórcio e ao aborto. Sendo este último, um direito, até hoje, cento e dois anos depois, negado na maioria das mais modernas democracias burguesas.

Cem anos após a revolução Russa, em 2017, um movimento internacional de mulheres, 8M, se iniciou na Europa e ganhou força na América Latina, com os atos argentinos #NiUnaMenos, levando milhares de mulheres às ruas do mundo todo. No Brasil, as principais pautas foram pela igualdade de direitos, contra a violência machista, pelo fim da cultura do estupro, por liberdade sexual e igualdade salarial. Em 2018, o 8M continuou ganhando força e as mulheres voltaram às ruas pela vida das mulheres, em defesa das liberdades democráticas e a denunciando a contrarreforma da Previdência.

Precisamos elevar o patamar das lutas sociais diante da contraofensiva ultraliberal reacionária e isso só poderá ser feito com a participação ativa das mulheres. Em que pesem as diferenças táticas e estratégicas entre as diversas correntes do feminismo, acreditamos que o 8M pode e deve ser um espaço para levarmos as pautas do feminismo classista. Diante do cenário cada vez mais retrógrado que vivemos, é preciso, mais do que nunca, resgatarmos o caráter revolucionário da luta das mulheres. Não só como uma luta identitária, facilmente cooptada pela lógica liberal burguesa, mas sobretudo, como uma luta classista que seja capaz de impulsionar a reorganização da classe trabalhadora como um todo e da juventude para enfrentar os ataques do capital neste novo ciclo de lutas.

Não à toa, os diversos governos de direita e ultraliberais, disseminam o medo e do ódio ao feminismo,ao socialismo e ao comunismo, porque sabem o quão perigoso é organização da classe e das mulheres trabalhadoras que ousam sonhar e lutar pelo fim de toda e qualquer forma de opressão e exploração. Sigamos juntas com aquelas que ousaram se levantar por paz, pão e terra.

Outros marços virão.

Sem feminismo, não há socialismo!

TODAS E TODOS AO 8M!

POR UM FEMINISMO CLASSISTA! PELO PODER POPULAR!

 

* Kate Paiva é professora do COLUNI – UFF, militante da Unidade Classista e do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro