NOTAS SOBRE MULHERES E CONJUNTURA EM TEMPOS DE CORONA VÍRUS

Via – Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro- Juiz de Fora MG

Uma parcela significativa do mercado de trabalho informal é ocupado por mulheres, uma vez que estas encontram cada vez mais dificuldades para conseguir trabalho no mercado formal e acabam na informalidade, ocupando os postos de trabalho mais precarizados, com baixos salários e cumprindo exaustivas jornadas de trabalho. Além disso, boa parte das famílias brasileiras são chefiadas por mulheres, mães solo, responsáveis pela sustento de toda a família e também pelo trabalho doméstico e cuidado dos filhos e/ou de pessoas mais velhas da família. As mulheres que em sua maioria desempenham tais funções têm cor e classe,isto é, são em grande parcela, as mulheres negras da classe trabalhadora.

Tendo em vista o lugar que a mulher negra ocupa na pirâmide social, carregando a tripla desigualdade de gênero, raça e classe, a elas são negados e se impõe diversas barreiras no que tange ao acesso à educação e à saúde, o que acaba por sujeitá-las ainda mais aos cargos de trabalho mais subalternizados socialmente. Desse modo, o racismo está enraizado na formação do país em todas as suas esferas, expressando-se também nas condições de trabalho.

Em meio ao contexto atual de pandemia ocasionada pelo novo coronavírus (COVID-19), o governo, por pressão de setores da sociedade, arquitetou a medida emergencial que criou o auxílio aos informais fixado em R$ 200 e, depois das críticas, ampliado a R$ 600 e R$ 1.200, a depender da particularidade de cada caso. A decisão é um direito que beneficia significamente parcela da classe trabalhadora, que já vinha sofrendo as consequências da crise econômica brasileira, assim como prioriza os usuários do programa bolsa família e as mulheres que são chefes de família aptas a receberem o valor de R$ 1.200. Entretanto, este valor ainda é insuficiente. Destacamos também como problemática a dificuldade para o pagamento (muitos se encontrando ainda em processo de análise) e o prazo de 3 meses para pagamento das parcelas, sem levar em consideração as projeções científicas acerca da duração da pandemia e dos impactos econômicos para nossa classe.

Dentro do quadro posto, a mulher trabalhadora, especialmente as mulheres negras e mães solteiras, aquelas em postos de trabalho informal e beneficiárias de programas como o bolsa família, compõem uma parcela contemplada pelo auxílio emergencial. Todavia, cabe salientar que é a mesma parte da classe trabalhadora que sofrerá de forma mais acentuada os impactos da pandemia, mesmo sendo beneficiada, a falta de acesso ao saneamento básico, a condições dignas de moradia, a saúde, dentre outras, mantém a condição de subalternidade e de principal alvo do novo coronavírus. Além disso, muitas mulheres trabalhadoras que continuam a trabalhar em meio ao contexto, em situações precarizadas, sem o devido acesso
às medidas de proteção orientadas pela Organização Mundial da Saúde e cotidianamente expostas ao risco de contaminação.

Embora, os benefícios sociais que englobam a Política de Assistência Social, bem como o auxílio emergencial, corresponda à reprodução imediata de parcela da classe trabalhadora, dentro do capitalismo jamais a universalidade de tal política será atingida e quiçá posta como horizonte final, tendo em vista as contradições estruturais do capital. O cenário nos mostra que a verdadeira saída é o socialismo e a construção do poder popular.