A mulher indígena no Sertão
Por Érica Lima*
Via Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro – Alagoas
Ao longo dos séculos, os povos indígenas do sertão nordestino sofreram com invasões sistemáticas, violências constantes, perderam seus territórios e tiveram que migrar para localidades que lhes assegurassem a sobrevivência.
Muitas famílias se sujeitaram a condições extremamente precárias, ocultando a sua identidade indígena por medo de repressões e tendo sua força de trabalho pauperizada pelos fazendeiros locais. Como resultado, o povo indígena passou por um processo de extermínio físico (no qual, mais da metade da população foi dizimada) e a descaracterização de sua cultura, construindo no imaginário popular a ideia de que não existiriam indígenas no Nordeste. Mas o povo resistiu e lutou até conseguir seu reconhecimento étnico perante o Estado.
Considerando que na região do Sertão predomina o clima semiárido, recebendo poucas chuvas com longos períodos de estiagem e uma pedologia de solos rasos; existe um cenário de muitos conflitos entre os indígenas (primeiros moradores e donos dos territórios) e fazendeiros invasores, que disputam os espaços úmidos, as fontes de águas, as terras boas, o plantio e pastagens para gado, que são consideradas “oásis” do sertão. Para os fazendeiros, esses espaços são apenas para explorações, no entrando, para o indígena, o território vai além do material, há uma relação simbólica entre o indígena e seu território.
Diante de todos esses conflitos, as mulheres enfrentam o assédio inescrupuloso dos brancos, o estupro político, desmoralizações e negligências. Tudo isso, enquanto presenciam as violências físicas com seus irmãos, como os assassinatos e a usurpação de seus territórios, o seu principal meio de produção e subsistência, a fonte de suas forças.
As mulheres são as principais guardiãs de seus territórios, as reprodutoras das sementes dos saberes de seus ancestrais, as que salvaguardam o meio ambiente e têm o dom de perpetuar a vida de seu povo.
No entanto, as mulheres indígenas sofrem violências dentro das aldeias, violência que por muitas vezes é ocultada por elas mesmas, familiares e até mesmo pelas lideranças. Mas essa violência não é herança dos ancestrais indígenas, mas sim, de um patriarcalismo que foi disseminado pelo invasores europeus e contaminaram as aldeias indígenas. Dentro de muita aldeias as mulheres são subjugadas, e não participam diretamente da vida politica e até cultural.
Mas essa questão de gênero entre os povos indígenas está começando a mudar, já existe uma bandeira sendo fincada ainda de maneira tímida, mas está lá. Mulheres tornando-se lideranças indígenas, a exemplo, a cacique Nina, na aldeia Katokin no Sertão de Alagoas – fato que não existia na região até então. É um processo árduo, mas que está gerando resultados. Mulheres indígenas estão ocupando cadeiras importante na política, lutando pelas questão de gênero, e principalmente pela conquista da demarcação de seus territórios, saúde, educação e a liberdade de seu povo, para viver em um lugar que não haja negligência do Estado e nenhuma morte a mais.
*Indígena do Povo Jeripankó e militante do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro em Alagoas.