Dia Internacional da Enfermagem 

Lutar por melhores condições de trabalho é pela a vida de milhares de trabalhadoras

Hoje, 12 de maio, Dia Internacional da Enfermagem é fundamental parabenizar todas as trabalhadoras e trabalhadores desse setor, que são fundamentais nos cuidados na saúde da população e tem enfrentado bravamente a pandemia da COVID 19, apesar de todas as adversidades enfrentadas. A enfermagem ocupa diferentes setores do cuidado, que são imprescindíveis para a saúde. Estão na assistência direta, na produção de pesquisas, na gestão dos sistemas e nos setores da educação em saúde e universitária.

A história da enfermagem foi ligada historicamente ao cuidado mais próximo dos enfermos e teve por um longo período relação com a caridade cristã, sendo exercida principalmente por mulheres. A enfermagem moderna, desenvolvida a partir de 1820 por Florence Nightingale, foi organizada sistematicamente pela a mesma a partir da experiência com o cuidado com enfermos em um hospital protestante. Florence foi a responsável por sistematizar e organizar dos cuidados da enfermagem a partir de bases científicas, distinguindo os mesmos, dos cuidados médicos. Em 1860 ela fundou em Londres a primeira escola de enfermagem, que foi responsável pela a formação de várias jovens.

A categoria foi ocupada historicamente por mulheres e nitidamente tem relação com a divisão social e sexual do trabalho, que determina que mulheres ocupem majoritariamente as funções mais próximas aos trabalhos domésticos e maternais. Dados de pesquisa realizada em 2013 pela FIOCRUZ mostra que 85 % da categoria é composta por mulheres, sendo 77% dela composta por técnicas ou auxiliares de enfermagem e 23 % por enfermeiras ( FIOCRUZ, 2013). As técnicas e auxiliares que têm menores salários e estão hierarquicamente em uma condição mais baixa dentro da organização do trabalho em saúde, 57,4% se declaram como pretas ou pardas ( FIOCRUZ, 2013).

Apesar da grande importância dessa categoria profissional, a mesma ainda sofre com péssimas condições de trabalho, baixos salários, pouca valorização, assédio moral e sexual. Muitas dessas profissionais precisam exercer múltiplas jornadas para conseguirem sustentar suas famílias, tendo um alto nível de adoecimento ligado ao trabalho devido a essas condições. Pesquisa do DIEESE de 2016 mostrou que quase 600 mil trabalhadores do Sistema Único de Saúde ( SUS ) tinha mais de um vínculo de trabalho em estabelecimentos do sistema público, sem contar outros vínculos em instituições privadas ou não formais, desses 49% eram profissionais da enfermagem. No momento no qual, longas jornadas de trabalho significa maior sobrecarga e maior possibilidade de contaminação e que a rotatividade de profissionais em diferentes estabelecimentos aumenta a chance de transmissão da doença, essa realidade é ainda mais problemática.

Vários outros dados podem mostrar as difíceis condições de trabalho dessas profissionais. Por exemplo, a mesma pesquisa da FIOCRUZ de 2013 evidencia que 49,5 % ( 382.981 pessoas) no setor público e 45,0 % ( 180.486 pessoas) no setor privado, 55,8% ( 125.223 ), no setor filantrópico, das técnicas e auxiliares não havia estrutura para descanso no trabalho, porcentagens semelhantes entre o setor de enfermeiras ( FIOCRUZ, 2013)
O contexto da pandemia escancara essa dura realidade no Brasil. De acordo a dados do Observatório de Enfermagem organizado pelo COFEN de hoje (12/05), houveram 108 casos de óbitos de profissionais dessa categoria e 14105 profissionais acometidas, sendo que mais de 60% das mortes e mais de 80% das pessoas acometidas são mulheres. No dia 06 de maio quando haviam 88 óbitos registrados, o conselho declarou que esse número já era o dobro de profissionais da categoria acometidos da Itália, um dos epicentros da pandemia na Europa.

A falta de EPIs, o não afastamento dos profissionais em categorias de risco, as jornadas exaustivas, o número de profissionais insuficiente para a quantidade de trabalho, o medo de ser vetor de transmissão para familiares, a falta de testes diagnósticos para profissionais de saúde, a não organização sistemática de processos de educação em saúde, a falta de políticas públicas para garantir que os profissionais não retornem para casa, a negligência com o isolamento social, a necessidade de conviver com a morte e escolha de pacientes para ocupar os leitos insuficientes é a face dramática encarada todos os dias por essas mulheres. Trabalhadora do Ceará relatou em entrevista ao COFEN que estava precisando usar fraldas para conseguir dar conta do trabalho e ficar em torno de 6 horas sem parar atendendo os pacientes

O desfinanciamento do SUS (no ano de 2019 houve uma perda de 22 bilhões secundário a EC 95 ), a privatização da saúde através do repasse da gestão para a iniciativa privada, a reforma trabalhista, a reforma da previdência, entre outras medidas neoliberais empregadas pelos governos em prol do grande capital precarizada o sistema público de saúde e possibilita a flexibilização das relações de trabalho em todos as instituições – públicas e privadas.

É fundamental a luta por melhores condições de trabalho para todas as trabalhadoras e trabalhadores da saúde, igualdade de direitos, melhores salários e garantias trabalhistas. Isso perpassa pela a luta por uma saúde pública, gratuita e de qualidade e contra o desfinanciamento da saúde e também contra esse modelo de sociedade no qual o lucro é mais importante que a vida.

Chega dos desmandos capitalistas. Fora Bolsonaro e Mourão!

Viva a toda as trabalhadoras e trabalhadores da enfermagem!

Coordenação Nacional do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro

Dados:

Pesquisa enfermagem no Brasil

http://www.cofen.gov.br/perfilenfermagem/index.html

http://www.cofen.gov.br/cofen-publica-observatorio-diario-d…

Observatório de enfermagem

http://observatoriodaenfermagem.cofen.gov.br/