Na aparência das relações, é confuso para nós da classe trabalhadora nos solidarizarmos com aquelas trabalhadoras e trabalhadores do setor bancário. O serviço bancário como está colocado, mesmo para o setor público, opera para sugar da classe trabalhadora. É algo semelhante com o que experimentamos em relação a polícia, claro que com forma de violência completamente distintas. O capital sabe que não funcionaria colocar os seus na linha de frente com a nossa classe, então ele retira de nossa própria classe novos operadores.

A complexidade do setor bancário consiste nas práticas da políticas do mais puro sangue capitalista dos bancos privados, e do outro lado da história, o surgimento dos bancos públicos, que são criados com o objetivo de operar para o estado e tendo com centralidade o papel social. No entanto, com o projeto neoliberal e o completo desmonte do Estado, as instituições que ainda não foram privatizadas em sua totalidade, estão sob o comando dos gestores de bancos privado, aplicam a política de gestão dos bancos privados nas instituições públicas,desta forma, esses bancos passam a se distanciar do objetivo inicial e passam a servir exclusivamente ao lucro. Um projeto de ataque ao povo brasileiro e principalmente aos trabalhadores deste setor, que passam a trabalhar sob cobranças de metas desumanas à serviço da acumulação do capital para a burguesia.

Com o horizonte socialistas, pensar uma outra sociedade inclui um projeto de Estado capaz de atender as necessidade da classe trabalhadora. Com isso, torna-se necessário um sistema financeiro estatal que seja instrumento da classe, capaz de viabilizar as políticas sociais para garantia de infraestrutura e serviços sociais. Desaparecendo com a centralidade do lucro e colocando como prioridade que todas e todos tenham onde morar, se alimentar, acesso à saúde e que possam trabalhar e estudar.

Longe disso, a realidade que vivemos ainda é a lógica capitalista. Onde a vida tem cada vez menos sentido e o lucro está no centro de tudo, até na produção e reprodução da vida.

Em tempo de pandemia fica perceptível como a corja dos capitalistas são incapazes de abrir mão de de ter os seus lucros sempre aumentando. E nem estamos falando de deixar de ganhar. Enquanto milhares morrem pelo mundo, a preocupação dos patrões tem sido garantir o funcionamento `normal´ do setor comercial. Temos uma pandemia instaurada e eles querem garantir venda e consumo de decoração de casa, cozinha, roupas de festa e outros supérfluos que não deveriam nunca valer mais que a vida.

Essa lógica capitalista permite que patrões coloquem mulheres de joelho nas calçadas de seus trabalhos, neste ano de 2020, para suplicar pela abertura do comércio. Enquanto o presidente, diz “E daí?” para o crescente número de mortos em nosso país, promove violência contra profissionais de saúde e jornalista, carrega criança com máscara de proteção respiratória no pescoço e sobe a rampa do Planalto Central enquanto são erguidas as bandeira dos Estados Unidos e Israel. Diz não ser coveiro para contabilizar mortos, mas se demonstra bastante preocupado com os relatórios da Polícia Federal, mesmo sem ser policial, a ponto de indicar um dos seus para que fosse modificada a superintendência da PF no Rio de Janeiro, onde sua família que está cada vez mais embrenhada com os milicianos nas investigações da polícia.

O presidente que suplica pela investigação de uma tal facada, que podemos convir que contou com uma superprodução que nem mesmo foi capaz de sustentar a cena. Enquanto menospreza a morte de Marielle Franco, uma das deputadas estaduais mais bem votadas do Brasil, mulher preta, lésbica, fuzilada quando voltada para casa após um da de luta. Um crime político que a cada avanço da investigação que pode chegar ao verdadeiro responsável, mais um rastro de sangue é aberto para a famosa queima de arquivo. E ele insiste que a tal facada é mais importante que o crime que ceifou a vida de Marielle e Anderson, que dirigia o carro.

Enquanto isso, a população, que não está preocupada se as lojas de objetos de decoração e outros adereços estão abertas, assiste os leitos de UTI se esgotando porque o projeto neoliberal também tem destruído o Sistema Único de Saúde do povo brasileiro. O verdadeiro colapso não está na mesa dos comerciantes, mas sim na mesa do povo trabalhador que já não tem mais o que colocar na mesa e segue aglomerado nas portas do banco para receber aquilo que deveria ser uma política permanente, um auxílio financeiro para que as famílias ao menos possam garantir a comida na mesa.

Enquanto isso em Brasília, os ratos fazem a festa com o dinheiro produzido pelo suor de cada trabalhadora e trabalhador que estão precisando dormir nas ruas e enfrentar mais de 15h de filas para receber R$600. Dinheiro este que não seria capaz nem mesmo de pagar um único jantar para esta família naquele restaurante que os políticos adoram, o Madero, que não está preocupado com quem vai viver ou morrer, só quer saber se o bolso de seu dono no fim estará cheio ou não.

Essa pandemia tem tornado nítida contradições sociais que estão em nosso cotidiano, e com uma gota de esperança, prefiro acreditar que, mesmo em tempos difíceis. Como já disse Marx, a sociedade não se propõe a nada que não seja capaz de solucionar.

No cotidiano a rotina, dia sim, dia não subir e descer ladeira para registrar o tamanho das filas nos bancos abre, literalmente, uma ferida no estômago, sem perspectiva que vai se fechar, pois mesmo antes da pandemia todo início de mês a classe trabalhadora passa por essa situação. São senhoras e senhores idosos aglomerado, em pé durante horas para conseguir o seu salário mínimo de aposentadoria, ou aquela mulher trabalhadora acompanhada de suas crianças, que nesse modelo de sociedade colocam a responsabilidade apenas nas costas da mãe, que até para ir ao banco para receber o bolsa família precisa estar com elas.

No domingo em Copacabana, as pensionistas de militares, que recebem atendimento vip nas agências prime – nesse caso gerente pode até ir na casa delas -, as bandeiras se levantam contra essa parcela da população que até o direito de comer lhes foi roubado, quanto mais o dia livre para fazer manifestação na beira da praia.

Não se enganem, mesmo nas priores condições, aqueles que estão sendo atacados estão também naquelas manifestações, vendendo água e cerveja para quem cospe das varandas quando eles ocupam as ruas para denunciar a dor de ter seus filhos mortos. Hidratando e levando a alegria em forma de álcool para aqueles que acham que bolsa família é luxo e acomodam as pessoas para não trabalharem. Logo eles que nunca souberam o que é isso, Trabalho, e seguem em transmissões ao vivo esbanjando a dura vida de estar em quarentena tomando seus bons drinks, mais caros que a cesta básica que a criança tá recebendo no período da pandemia.

A acidez no estômago é do ódio de classe e das frustrações de sermos frutos dos limites do nosso momento histórico.

E na fila do banco, quem labuta todo mês para conseguir o mínimo, não consegue distinguir o verdadeiro inimigo e vê naquele trabalhador atrás do biombo a face do preguiçoso de Copacabana.

Enquanto isso, a verdadeira face é a do trabalhador que por muitas vezes já nem tem vida em seu olhar, acometido por diversas doenças do trabalho, vivendo no olho do furacão das reestruturações, sendo mandados de um lado para o outro do dia para noite, que vê sua aposentadoria sendo comercializada e a assistência de saúde conquistada, com anos de luta, sendo desmantelada. Uma rotina de cumprir metas para colocar comida na mesa, e tendo que guardar na gaveta seu histórico de adoecimento toda vez que a perícia manda retornar para o trabalho.

Nesse movimento, a contradição começa na fila do banco, passa pelo telejornal, caminha nos livros de teoria, chegam ao trabalho coletivo em busca de outra sociedade e retornam para as filas do banco que a cada mês estão diferentes, em consciência e contradições.