A luta da comunidade LGBTQI+ é permeada de enfrentamentos na sociedade de base patriarcal, que normatiza um único tipo de família estruturada na posse de bens, no controle da reprodução de pessoas e na legitimação de um Estado que por muito tempo legitima opressões àqueles que compõem os degraus mais baixos da pirâmide social. Nesse contexto histórico-social chamamos atenção para a invisibilidade, discriminação e reivindicação por garantia de direitos que a população bissexual vem pautando nas últimas décadas. O debate, por vezes, identificado como centralidade de entender que não há confusão na orientação/identidade sexual da pessoa bi, vai muito além da reafirmação enquanto ser que não está passando por momentos de indecisão entre a heterossexualidade e a homossexualidade.

Na sociedade capitalista a discriminação do que foge à logica monossexual acarreta a dualidade pela desqualificação e apagamento da população bi. Estatisticamente o sofrimento mental, sobretudo dentro da família nuclear e na própria comunidade LGBTQI+, são causados pelo enquadramento do que socialmente é posto como normativo, os estereótipos de promiscuidade às pessoas bissexuais como a infidelidade em uma relação monogâmica, o machismo permeado de fetichismo às mulheres bi que por se atraírem por mais de um gênero supostamente estariam disponíveis para relações fluidas com pessoas de gêneros diferentes ao mesmo tempo, o machismo permeado de um ideal de masculinidade que estigmatiza homens bi a serem taxados de ‘’menos homem’’, o imaginário bifóbico de que essas pessoas teriam mais predisposição a infecções sexualmente transmissíveis, e a solidão por incompreensão e/ou negação de uma orientação sexual que é própria e válida, mas é posta como confusa.

A incredibilidade em relação a essa população é tão gritante, que as pesquisas acerca de suas condições de vida são escassas no Brasil. A saúde física e mental da população bi, segundo o estudo feito pela Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres coletou dados no Reino Unido em 2007, e constataram índices altíssimos de distúrbios alimentares, automutilação e depressão em mulheres bissexuais. Dados alarmantes que nos fazem refletir sobre a omissão de responsabilidade do Estado ao com a garantia de políticas públicas que abarquem a saúde da população bissexual, a educação que paute a diversidade dentro da comunidade LGBTQI+, e mecanismos que criem estratégias para o reconhecimento da bissexualidade socialmente e da luta pela garantia de políticas públicas especificas para a população bissexual.

Nós, do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro, entendemos que a libertação das amarras que nos prendem às opressões perpassa pela organização política e coletiva de pessoas que são exploradas por um sistema que desumaniza. Além da recuperação da humanidade que nos foi roubada estruturalmente, queremos construir uma sociedade emancipada, livre de todo tipo de opressão e exploração do ser humano.
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