A data do dia 20 de novembro há mais de cinquenta anos foi escolhida por militantes negras e negros como um marco histórico de luta dos afrodescendentes brasileiros, por ter sido essa em 1695 a da morte de Zumbi, grande liderança do Quilombo dos Palmares.
Na Serra da Barriga, no atual estado de Alagoas, Palmares resistiu por mais de cem anos, e mesmo chegou a ter mais de 25 mil habitantes, em um tempo em que a violência da escravidão era dominante no Brasil colonial, e a corajosa organização e fuga para quilombos era um importante ato de resistência.
Mulheres e homens africanos e afrodescendentes travaram não só essa batalha, mas tantas outras, durante o período em que a escravidão vigorou no país – o último a aboli-la, em 1888 – e após, e assim continuam a fazer: o assassinato de Zumbi é então todos os anos lembrado como símbolo dessa luta diária do povo negro brasileiro contra o racismo.
Nós do Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro lembramos que essa luta também muito se construiu pelas mulheres negras, resistentes desde a chegada do primeiro navio negreiro às costas de nosso país. Não é possível pensar em Zumbi sem lembrar de Dandara, guerreira de Palmares; assim como não há como falar de Revolução dos Malês sem Luiza Mahin ou do Quilombo de Quariterê sem Tereza de Benguela. Ou ainda, da luta por direitos das trabalhadoras domésticas, já no século XX, sem Laudelina Campos de Mello, ou de grandes escritoras do povo brasileiro sem Carolina Maria de Jesus. Milhares de mulheres negras anônimas nas páginas da história fizeram de sua vida um ato de resistência e luta contra o colonialismo, a escravidão, o racismo, e também o patriarcado e o capitalismo, do século XVI aos nossos dias atuais, quando estamos em luta contra a fome, a miséria, a violência doméstica, a falta de direitos básicos para milhões de brasileiras que vivem sob um governo genocida, que escancara as facetas mais bárbaras do capitalismo.
Sabemos que essas facetas prejudicam em especial a população negra, marginalizada diretamente pelo legado da escravidão, que no 13 de maio concedeu alforria, mas impediu a liberdade de milhões, ao jogá-los na pobreza, e ainda mais as mulheres negras.
Em relação às mulheres brancas, as mulheres negras possuem menores taxas de alfabetização e escolaridade, maiores índices de feminicídio, e dentre as famílias que têm de sobreviver com até um salário mínimo por mês, 60% é chefiada por uma mulher negra.
Indicadores de saúde apontam tratamento desigual para mulheres negras, que possuem maiores índices de mortalidade materna e violência obstétrica, assim como menos acesso a atendimentos e tratamentos adequados.
Na pandemia da Covid 19, as taxas de mortalidade mais altas no Brasil são compostas pela população negra e pobre, e na difícil situação econômica provocada no país, são as mulheres negras as mais afetadas.
Desempregadas e precarizadas no que se refere ao trabalho, além de sobrecarregadas pelo trabalho doméstico e acúmulo de funções – o caso de Mirtes, mão do menino Miguel, exemplifica a situação de extrema violência proporcionada pelo racismo, capitalismo e patriarcado durante a pandemia no país.
Percebemos essa associação de fatores quando vemos quem são as mulheres nas filas por ossos, doações e emergências lotadas no ano de 2021, e por isso, defendemos que o debate sobre raça, gênero e classe é central para entendermos a realidade das trabalhadoras e trabalhadores hoje no Brasil; e, além disso, para pautarmos nossas ações, rumo a uma sociedade verdadeiramente justa e livre.
Por isso, chamamos para que todos se somem no dia 20 de novembro de 2021 aos atos de rua de FORA BOLSONARO RACISTA, em continuidade à luta que vem antes mesmo de Palmares, por um Brasil onde haja dignidade para a população negra. As mulheres negras, que apesar de todas as condições de exploração e opressão sempre estiveram envolvidas nos movimentos por uma real emancipação, dão nesse dia mais um passo na luta, e mostram que o caminho é a mobilização popular.