No dia de hoje comemoramos o Centenário do Partido Comunista Brasileiro, o PCB, e a relevância da sua contribuição histórica nas lutas travadas em território brasileiro e na organização de mulheres e homens da classe trabalhadora.
O Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro, construído após o falecimento da militante histórica, Ana Montenegro, em 2006, é fruto da mobilização de inúmeras mulheres comunistas combativas que protagonizaram nacional e internacionalmente as bandeiras de luta e pautas do Partidão, em greves, paralisações, ocupações urbanas, ligas camponesas, sindicatos, jornais, organizações artísticas/culturais e nas organizações específicas das mulheres.
Apesar das contradições históricas e materiais próprias do ano de fundação do Partido, em 1922, a organização das mulheres trabalhadoras sempre foi o objetivo principal das comunistas. A tecelã Rosa Bittencourt foi a primeira mulher a ingressar no PCB neste mesmo ano, estando presente nas principais lutas do partido. Laura Brandão, uma jovem poeta, participou ativamente do Bloco Operário e Camponês, e, quando exilada com a família na URSS, atuou na resistência aos nazistas.
Na década de 1930, várias intelectuais e artistas ingressaram no nosso partido. Patrícia Galvão, a Pagu, exerceu forte atuação em prol da emancipação feminina, sem deixar de mencionar o livro Parque Industrial que traz marcas do seu feminismo. Posteriormente, Pagu foi duramente torturada pela ditadura de Vargas.
Honramos também a contribuição de outras camaradas como Olga Benário, que veio ao Brasil para colaborar com a construção do socialismo e que foi presa junto com várias militantes e deportada para a Alemanha, onde morreu num campo de concentração nazista. Em nossas fileiras tivemos Nise da Silveira, um grande nome representativo da luta antimanicomial, que foi presa na mesma cela 4, e que ficou conhecida como a médica que revolucionou o atendimento psiquiátrico, ao se contrapor ao tratamento desumano dado aos doentes mentais à época, abolindo o uso de eletrochoques e adotando métodos não convencionais, lúdicos e humanizados com seus pacientes.
Em 1935, foi criada a União Feminina do Brasil, que sobreviveu apenas dois meses, e lançou um manifesto convocando as mulheres à luta. Em 1936, destacamos o imprescindível papel da militante Laudelina Campos de Melo, fundadora do primeiro Sindicato de Empregadas Domésticas do país neste mesmo ano.
Na década de 1940, com a legalidade do PCB, a participação das mulheres no partido cresceu muito. Várias camaradas foram eleitas para as Assembleias Estaduais e para as Câmaras de Vereadores, como Adalgisa Cavalcanti, Zuleika Alambert, Arcelina Mochel, Odila Smith, Lucilia Rosa, entre outras. Em 1947, foi lançado o jornal O Momento Feminino, dirigido por Arcelina Mochel, Ana Montenegro e Eneida de Moraes, com uma linguagem voltada às trabalhadoras. O Momento Feminino circulou até 1957.
No ano de 1949, foi fundada a Federação de Mulheres do Brasil, com o objetivo central de construir um movimento feminino nacional unificado. Participam da fundação Arcelina, Elisa Branco e Ana Montenegro. Com a volta da ilegalidade do Partido, as comunistas voltam a ser perseguidas. Duas militantes comunistas foram assassinadas em manifestações pela repressão, Angelina Gonçalves (RS) e Zélia Magalhães (RJ). Elisa Branco é presa ao abrir a faixa: “Os soldados, nossos filhos, não irão para a Coreia”, durante o desfile militar de 07 de setembro 1950, em São Paulo.
Foram muitas as mulheres que contribuíram com a construção da nossa história. Nas lutas camponesas, destacamos Elisabeth Teixeira, da Liga Camponesa de Sapé, na Paraíba, Dirce Machado, na Revolta de Trombas e Formoso, em Goiás, e Josefa Paulino da Silva, na Federação dos Trabalhadores na Agricultura, no Rio de Janeiro.
Dividimos também nossas fileiras com várias poetas, como Lila Ripoll e Jacinta Passos, escritoras como Alina Paim, Zuleika Alambert e Ana Montenegro, atrizes como Thereza Santos, e tantas outras artistas e intelectuais. Ressaltamos a participação de Antonieta Campos da Paz, no Rio de Janeiro, que organizou diversos núcleos de mulheres trabalhadoras nos bairros periféricos e Maria Aragão, médica maranhense, que ajudou a organizar o PCB no Maranhão e dirigiu o jornal Tribuna do Povo.
Nosso trabalho pela organização das mulheres e pela construção de uma sociedade socialista prosseguiu na década de 1960 e durante os mais duros anos da ditadura. Em 1976, perdemos Neide Alves dos Santos, assassinada pela repressão em São Paulo. Ana Montenegro foi a primeira mulher a ser exilada e Maria Brandão dos Reis teve que se esconder.
As comunistas Zuleide Faria de Mello e Marly Vianna participaram de uma ousada operação para retirar os arquivos de Astrojildo Pereira do país e enviá-los para a Itália. Zuleide foi presidente do Partidão de 1992 até 2008, após os liquidacionistas tentarem acabar com o Partido. Várias camaradas lutaram pela Reconstrução Revolucionária do PCB, como Yeda Maria Ferreira Mesle, na Bahia.
Com o objetivo de intensificar a organização das mulheres trabalhadoras, o nosso Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro, foi fundado no início dos anos 2000 pelas comunistas imprescindíveis sem as quais a existência do CFCAM não seria possível: as as camaradas Mercedes Lima, Elvira Cavalcante, Maísa Lima, Valmiria Guida e Renata Regina e a Marta Barçante, Secretária Nacional de Mulheres, Gênero e Diversidade Sexual do PCB.
Esse breve histórico das mulheres nesses 100 anos do Partido Comunista Brasileiro ressalta como foi e como continua sendo a nossa participação nas mais diversas lutas, a favor da paz, contra a fome e a miséria em nosso país, no combate às duas ditaduras do século XX, contra a carestia, no combate a qualquer forma de opressão e violência contra as mulheres, que ainda persistem na nossa atual e desafiadora conjuntura.
Atualmente o Coletivo está organizado nacionalmente em pelo menos 20 estados do país e continuamos a nossa luta contra o patriarcado e contra a exploração capitalista, pela emancipação da humanidade, na construção do Poder Popular, rumo ao Socialismo. A história dos 100 anos do PCB é marcada pela ativa participação das mulheres que contribuíram e contribuem expressivamente pela construção do partido, no enraizamento da sua participação na história da luta de classes do Brasil e na organização das trabalhadoras e trabalhadores em diversas frentes de lutas populares, desde sua fundação.
VIVA OS 100 ANOS DO PCB!
VIVA A HISTÓRIA DE LUTA DAS MULHERES COMUNISTAS!
VIDA LONGA AO COLETIVO FEMINISTA CLASSISTA ANA MONTENEGRO!