O Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro declara seu apoio à candidatura da jovem feminista, comunista, trabalhadora e mãe, Vivi Motta, para o governo do Paraná. Apoiamos também, à nível nacional, a candidatura de Sofia Manzano para a Presidência da República.
A candidatura de Vivi Motta se apresenta como alternativa para a classe trabalhadora do Paraná em um momento de crise econômica e social que atinge em cheio milhares de lares paranaenses, lares que são, em grande parte, administrados por mulheres. Cada vez mais a fome, a violência e a falta de moradia se tornam problemas cotidianos da população e sobretudo das mulheres, que enfrentam as jornadas múltiplas de trabalho e a violência patriarcal que se manifesta de diversas formas na sociedade capitalista.
No Paraná observamos uma política neoliberal, alinhada ao governo de Bolsonaro e Mourão, que intensifica a terceirização do trabalho e o sucateamento dos serviços públicos, com um projeto de precarização que avança a cada ano.
Na saúde, a precarização se sente na pele das trabalhadoras e trabalhadores diante da falta de estrutura e de profissionais qualificados para os atendimentos básicos. Na educação pública, a implementação de políticas meritocráticas impulsiona a evasão escolar enquanto a desvalorização das/dos profissionais das escolas e a demanda por recursos básicos e estruturais segue sem atendimento efetivo. Na segurança pública, os últimos dados revelam a necessidade de políticas efetivas no combate a violência e em especial contra as mulheres.
A cada 6 minutos uma mulher é violentada no estado, e, de acordo com a Polícia Civil do Paraná, entre os anos de 2019 a 2021, das 981 mortes violentas de mulheres registradas, 291 casos foram de feminicídios e 63% destas mortes ocorreram dentro de suas residências, sendo 78% dos casos cometidos dentro de uma relação íntima, seja a atual ou a anterior em que as mulheres estavam envolvidas. Não estamos seguras nem dentro de nossas próprias casas!
Dos dados que temos, Curitiba e região metropolitana figuram em primeiro lugar com 55 feminicídios notificados, seguido de Cascavel com 26 e Maringá com 25 casos registrados, e entre o mesmo período foram solicitadas ainda 90.594 medidas protetivas de urgência em todo o Estado.
No que concerne à problemática da violência doméstica, cientes da dependência afetiva e financeira em que as mulheres se encontram, defendemos que estas tenham acesso à discussões e debates que perpassem o tensionamento entre os papéis de gênero desempenhados em nossa sociedade, e qual é a sua importância para a divisão sexual do trabalho, que aprisiona e reduz as mulheres às tarefas do cuidado e de reprodução da força de trabalho, além de tensionarmos também o papel da família mononuclear burguesa neste contexto, e que diante de espaços de debate, escuta e acolhimento, possamos desenvolver estratégias coletivas que visem engendrar a autonomia emocional e financeira das mulheres — sem que nos deixemos enganar pela falácia do empreendedorismo —, para que elas possam, enfim, desenvolver mecanismos que contribuam no rompimento do ciclo da violência.
Sabemos o quanto o patriarcado e o racismo são fundamentais para a vigência do modo de produção capitalista, uma vez que por meio dessas estruturas são viabilizadas não somente uma maior exploração da força de trabalho de um contingente de mulheres que seguem recebendo os menores salários e ocupando os piores postos de trabalho, mas também segue as submetendo a opressões e violências diárias devido a sua condição de gênero, tornando a problemática da violência doméstica e a sua expressão mais bárbara, o feminicídio, numa realidade cada vez mais recorrente em nosso cotidiano, sobretudo quando nos referimos às mulheres negras que sofrem de forma muito mais ostensiva com toda a opressão e exploração imposta pelo racismo, pelo patriarcado e pelo capital.
Como forma de combate à violência de gênero e suas múltiplas expressões, defendemos que esta temática seja reafirmada primordialmente enquanto um problema pertencente à esfera da saúde pública, para que limpemos o campo do fundamentalismo religioso que, com o ascenso da extrema direita nestes últimos anos, tem atravessado de forma cada vez mais reacionária essa pauta. Sobretudo a nível nacional, após a eleição do governo Bolsonaro à presidência da República, e de figuras como Damares Alves que ocupa hoje o cargo de ministra do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, e postula um discurso ideológico conivente com o ideal de família burguesa, defendendo a premência da moral e bons costumes conservadores que em nada auxiliam no cenário de violência doméstica e familiar apresentado, uma vez que diante de discursos como estes, as mulheres sentem-se coibidas a continuar na dinâmica do relacionamento violento em prol da sustentação do seu papel enquanto esposas e mães, ainda que suas vidas sejam constantemente colocadas a prova nesse contexto.
Somente um programa de governo vinculado diretamente às necessidades da população, de caráter socialista e que se recuse a governar para os mais ricos do estado é capaz de reverter esse intensivo ataque à classe trabalhadora.
Por essas razões, o Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro conclama a todas as mulheres com quem dialogamos e dividimos as lutas a construir esse projeto que tem como horizonte o poder popular. Todo apoio às candidaturas de Vivi Motta e Sofia Manzano!
Nossas pautas:
- Revogação imediata das contra reformas trabalhistas e previdenciárias e da emenda constitucional do teto de gastos;
- Em defesa do SUS totalmente público, estatal, universal, de qualidade, e com poder popular para garantir uma atenção integral à saúde das mulheres;
- Legalização do aborto – 100% público, legal e seguro, realizado pelo SUS;
- Pelo fim da violência obstétrica e por medidas que garantam o parto humanizado;
- Educação pública, gratuita, laica e de qualidade, não sexista, não racista, nãoLGBTfóbica e sensível à diversidade de gênero.
- Redução e tabelamento dos preços dos alimentos e do gás de cozinha;
- Para trabalhos iguais, salários iguais! Equiparação salarial já;
- Para gerar mais empregos: redução da jornada de trabalho para 30h semanais semredução salarial;
- Pelo fim do racismo! Acabar com a guerra às drogas e o extermínio da população negradas periferias. Pela desmilitarização da polícia!
- Pelo fim do genocídio dos povos originários! Avançar na demarcação das terrasindígenas;
- Pelo fim da violência contra as mulheres!
- Defesa das empresas públicas e reestatização de todas as empresas estratégicas;
- Pelo fortalecimento dos serviços públicos de saúde e educação por meio de maioresinvestimentos com controle popular e concursos públicos;
- Socialização do trabalho doméstico e dos cuidados com as crianças: Criação derestaurantes, escolas, creches e lavanderias populares, que funcionem em tempointegral, de qualidade e com acesso universal;
- Abaixo ao agronegócio, ao latifúndio e pela reforma urbana e agrária radical!Desapropriação dos terrenos e prédios ociosos para a construção de habitações populares, praças, parques e locais de lazer, acompanhada do plantio de árvores e preservação e ampliação de áreas verdes nas grandes cidades; nenhuma ação de despejo das comunidades que lutam legitimamente em defesa da moradia popular.