O caso de humilhação e constrangimento denunciado por usuárias do SUS deAmericana (SP) para receber a injeção anticoncepcional é um retrato cruel do (não)acesso aos direitos sexuais e reprodutivos que as mulheres e pessoas quemenstruam enfrentam no país.
Segundo a reportagem, as mulheres são obrigadas a comprovar que estão menstruadas, mostrando o absorvente, para receber uma nova dose da injeção. A necessidade da comprovação seria para evitar que as mulheres usem a injeção anticoncepcional para fazerem um aborto.
Uma das mulheres entrevistadas coloca que os mesmos profissionais que praticama conduta vexatória são os que julgam quando elas aparecem grávidas novamente.
A postura moralista e punitivista de profissionais de saúde revolta, mas não surpreende. É um reflexo direto do conservadorismo patriarcal que continua a tomarconta do debate sobre direitos sexuais e reprodutivos. O Brasil tem uma daspolíticas mais restritivas em relação ao aborto, que ainda é tratado como umaquestão moral e não uma questão de saúde pública, causando estigma, trauma,encarceiramento e morte de milhares de mulheres pobres, em sua maioria negras.Por isso dizemos que sobreviver a um aborto clandestino é um privilégio de classe e raça, pois as que podem pagar por um procedimento seguro, o fazem sem grandes consequências.Situações como essa de Americana expõem as inúmeras barreiras no acesso aosdireitos sexuais e reprodutivos e uma realidade pouco abordada nos debates sobrea legalização do aborto: nunca foi uma questão moral para o sistema capitalista-racista-patriarcal, é sobre o controle da força de trabalho, que éreproduzida pelas mulheres.
A situação também nos mostra a urgência de avançarmos nessa pauta pelaperspectiva do feminismo classista, que não se restringe a um direito individual aopróprio corpo, como traz o feminismo liberal, mas uma questão coletiva de saúdepública e que está atrelada a questões de maternidade, de acesso à políticaspúblicas como creches, saúde sexual e reprodutiva, educação sexual, planejamento familiar, e sobre o papel social das mulheres na nossa sociedade.
#direitosreprodutivos#abortolegal
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