25 de julho – Dia Internacional da mulher negra latino americana e caribenha
A data nasceu com o fim de celebrar e sobretudo estimular a reflexão sobre o papel das mulheres negaras da América Latina e Caribe, em julho de 1992 por representantes de cerca de 70 países e participantes do Primeiro Encontro de Mulheres Negras da América Latina e Caribe, em Santo Domingo, na República Dominicana.
Ela buscar dar visibilidade ao fator desigualdade racial e de gênero, à resistência e luta das mulheres negras contra o racismo, sexismo, discriminação de classe, preconceitos, fortalecendo e resgatando as organizações de resistência das mulheres negras e principalmente aquelas que rompem com um feminismo não classista, que lutam contra os espaços subalternos que lhes são dados. È maior o impacto do machismo sobre as mulheres negras, que têm suas vidas e corpos mercantilizados, que têm os salários mais rebaixados do país e vidas absolutamente invisibilizadas no campo intelectual ao longo dos processos históricos.
É preciso reconhecer que o movimento de mulheres, contrapondo-se ao movimento feminista classista, não deu como não dá conta de explicar/visibilizar a situação dessa população, daí o alcance importante que tem essa data porque além de definir a data do 25 de Julho como o seu dia, também criou a hoje poderosa Rede de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, internacionalizando o feminismo negro com a construção de formas de lutas de enfrentamento a um tipo de opressão capitalista sim, mas guardando suas especificidades, respeitando a identidade das mulheres negras já que, a identidade feminista não é homogênea nem linear, nela havendo demandas específicas abarcando as condições como gênero, etnia, orientação sexual e religiosa, todas, naturalmente, com o corte de classe, esse sim, fundamental para um melhor entendimento sobre todas as formas de opressão e discriminação contra as mulheres.
Existe a necessidade de fortalecer o 25 de Julho – esse dia da Mulher Afro-Latino-americana e caribenha- com um feminismo que entende a transversalidade na questão da opressão de gênero e classe, tendo um olhar para abarcar as diferenças, as multiplicas experiências e identidades das mulheres. É importante para a mulher negra com presença excluída da história e também da vida cotidiana e, portanto, da cultura e das artes, através de tentativas de imposição de identidade europeia. É difícil, muito difícil, ser mulher negra trabalhadora numa sociedade capitalista historicamente construída a partir do patriarcado, do racismo, da opressão de uma classe por outra. O 25 de Julho auxilia numa construção de uma identidade global e com ela uma articulação para as lutas, com uma internacionalização dos debates.
Ana Montenegro, feminista baiana que dá nome ao Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro, foi, no Brasil, uma das primeiras mulheres, a romper com um feminismo dito branco, camada media, que predominava em determinado momento da história do feminismo, lutando contra a afirmação de uma identidade feminina homogênea, uma universalidade que, no caso, era, na verdade, excludente, travando batalhas nas lutas ditas de rua, e também na imprensa e na academia, para dar visibilidade às demandas específicas das mulheres negras, das mulheres pobres e mais exploradas da sociedade.
Esse feminismo classista busca a sua interligação com as demais lutas sociais, com outras condições de opressão e discriminação, como etnia, orientação sexual, religiosa, sempre dando visibilidade à questão da mulher negra que tem no mercado de trabalho e no cotidiano da vida uma situação diferente da mulher branca, embora, ambas enquanto trabalhadoras sofram com a exploração do capital. As mulheres negras, a partir do III Encontro Feminista Latino- americano (Bertioga, São Paulo, 1985) organizam-se em coletivos, dando maior visibilidade política as suas lutas, particularmente no movimento feminista latino-americano e caribenho.
Texto: Mercedes Lima – COLETIVO FEMINISTA CLASSISTA ANA MONETENEGRO